quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Amores morrem e nascem todos os dias


Anne era pequenina, tinha os olhos verdes mais lindos que já vi e o cabelo preto comprido, a pele branca e as bochechas coradas e um sorriso ingênuo. Mas hoje, bem, hoje não era um bom dia, como aqueles em que ela abria as cortinas e sorria com os olhinhos entreabertos, ela apenas recostou a cabeça na janela embaçada e chorou junto com a cidade que havia lá fora, todos aqueles prédios cinzentos e as pessoas que corriam com seus guarda-chuvas por aquelas ruas. A cidade chorava com ela. 
Ninguém lá fora imaginava o tamanho da dor que sentia. Como dizer adeus a quem nunca se imaginou sem? Doía como uma ferida exposta, seus olhos marejados já estavam inchados e o coração doía como nunca imaginava que poderia doer. Queria ligar pra alguém, ter um amigo que atravessasse a cidade para conforta-lhe no peito e dizer que ele não valia tamanha dor, mas Anne não tem ninguém. Tinha ele, mas agora não mais. Pra onde correr quando o seu único porto seguro não lhe pertencia mais? Era algo totalmente insuportável. A pequenina abafava o choro no travesseiro enquanto tentava, inutilmente, afastar todos aqueles pensamentos. Mas como tirar da cabeça o que não sai do coração?
O celular tocava incessantemente e sem olhar quem era e antes mesmo de dizer 'alô', do outro lado da linha ele começou:
- Anne, meu amor, desculpe por ontem, quero dizer, desculpe por ser tão idiota, não posso deixar você ir embora. Eu amo você e não consegui dormir essa noite, não quero que tudo isso que a gente construiu acabe assim. Anne, eu te amo mais que tudo, minha pequena.
- Eu também te amo, Caio.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Amores nascem assim


É sábado à noite, umas dez e meia, não sei ao certo, faz um calor do caralho e ela está tomando chocolate quente e lendo um livro abstrato demais, um típico romance adolescente que já leu várias vezes e a fez chorar e que, agora, não faz mais sentido. Ela tem os olhos cinzas mais lindos que já vi na vida, mas eles parecem mortos, estáticos, sempre vidrados em algum objeto enquanto a cabeça insiste em pensar em coisas – ou pessoas? – que já significaram  muito e... Hey, onde é que estão?
Quem é que fica sozinha, numa poltrona velha, ao lado do telefone – que nunca toca – esperando alguém, não se sabe quem, dar algum sinal, alguma luz, uma palavra, um gesto, bebendo chocolate quente nesse país tropical em pleno verão? Ela. As luzes lá fora piscam, o som das buzinas, as conversas animadas, as risadas, tudo inunda o apartamento e agora, mais que nunca, sente-se sozinha, abandonada. Nunca teve alguém por muito tempo, Psicose é seu sobrenome, quem a aguentaria? Por que nasceu assim? Com essa linha de raciocínio meio poeta, meio louca, complicada demais pra um cara normal.
Está fitando a janela, há alguém apoiado no parapeito num prédio vizinho, eles se sorriem e há alguma magia implícita ali. Ele é um homem bonito, não bonito como a maioria dos bonitos, ele tem algo a mais, seus olhos são negros como a noite e contrastam com a pele clara, os cabelos desgrenhados e o peito desnudo. Olhando assim, de longe, ele... ele parece tão bonito. Já é tarde, ela vai se deitar e sonhar com o homem que a sorriu, o homem que a dedicou um sorriso depois de tanto tempo sem admirar sequer o seu.
Amores nascem em madrugadas como essa, para mulheres como ela, que vivem tão amargamente. 

domingo, 16 de dezembro de 2012

Desisto


Tenho andado meio vazia, sentindo falta de carinho, um cafuné na cabeça, me botar no colo e fazer dormir. Cansei de tanta coisa, me senti obrigada a me encolher num canto escuro do meu quarto e chorar, chorar até adormecer ali, com a cabeça sobre os joelhos e os braços envoltos nas pernas. Cansei de chorar por algo que não volta, algo que sinto falta, algo que sei que não terei mais. É isso mesmo, estou desistindo de tudo, de nós, de você, D-E-S-I-S-T-I-N-D-O. Chega! Não vale à pena, não vale a dor, não vale, não vale. Você não merece, na verdade nunca mereceu, uma lágrima que rolasse pela minha face, não vale uma noite de insônia, não vale a angústia. Sim, realmente desisti de você. 
Não vou dizer que foi fácil, que foi simples decidir, é difícil, é muito difícil pensar com o coração, mas é isso, eu decidi, ele pensou, cansou de apanhar. Desistir foi meu maior ato de coragem nos últimos tempos, decidi que vou gostar mais de mim, cuidar mais de mim e gostar de quem gosta de mim. Não quero mais quem inventa desculpas pra não me ver, quem foge, quem procura quando tá afim, não quero alguém sem sentimentos. Quero alguém que fique, alguém que saiba o endereço da minha casa, que queira conhecer meus pais, minha família, alguém que me leve ao cinema, que cante comigo aquela música melancólica, que ria das minhas piadas sem-graça, alguém que me faça cafuné. Quero alguém que goste de ficar. Você não se encaixa mais, não serve, não sabe decifrar esse meu quebra-cabeças, vai embora de vez, não preciso que voltes mais, vai, tenta um jogo mais fácil e entenda que esse, você já perdeu.
Observe você desaparecer da minha vida, otário. 

sábado, 1 de dezembro de 2012

Violeta


Não sei o porque, mas desde bem pequena, fui apaixonada por Violetas, são pequeninas, frágeis, não impõem um significado como rosas vermelhas impõem o amor, elas apenas estão ali, dispostas, esperando que as interprete como bem entender: num momento bom, delicadeza; num momento ruim, tristeza.
Não sei se conseguirei ser fiel, estou dizendo apenas de memória, mas tem uma música que diz assim: “Violetas murcham na janela sem saber por que, dizem que enxergam o que ninguém vê”. Sinto-me Violeta que saiu por ai pra dançar e que, vez por outra, murcha ao som de uma melodia triste que reflete algo ainda mais triste. 
Tenho tido dias duros, tenho me equilibrado em meu próprio corpo, tem sido difícil ficar de pé diante de todo esse caos. Na última semana, me esqueci de sorrir, é que tenho concentrado-me em apenas ficar de pé, em não desmoronar. Em noites escuras como as anteriores, sentei-me na janela, que é como as violetas são colocadas e contemplei o céu, a Lua e as estrelas, buscando uma resposta, tentando fugir do meu próprio caos, tentando sair do meu corpo e depositar-me numa dessas Violetas que ficam aí, nas janelas da sua casa, só pra saber como é que anda esse seu coração, pra saber pra quem são os seus suspiros. 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Eu te amo


Dizer um ‘eu te amo’ e não ouvir nenhum retorno, nem sequer um ‘eu também’ ou ‘eu gosto de você’, nem um ‘eu gosto de você só como amigo’. Não sei, talvez até o último fosse melhor que esse silêncio. O celular que não toca, a janela do Facebook que não abre, o seu nome que não aparece quando chega SMS. Nenhuma palavra, um suspiro, um retorno, nada. Esse silêncio dói, corrói, arde. Diz alguma coisa, diz, por favor, pode dizer que eu sou uma idiota e que não quer mais me ver, qualquer coisa é melhor que esse silêncio que me deixa em cima do muro, sem saber se desisto de vez ou continuo persistindo num ‘nós’. 
Eu te amo, com todas as letras, sílabas e entonações possíveis. Te amo por inteiro, amo cada pedaço teu, amo tua boca, teus olhos, teu corpo e até o seus pés meio estranhos. Amo sua voz, suas mãos quentes, seu corpo perfeito, seu cabelo, suas manias, seu jeito de me fazer rir, seus deboches, seu jeito doce de me chamar de ‘Nega’. Seus beijos ardentes, seu corpo contra o meu, seus lábios na minha nuca, suas mão pelo meu corpo fazendo-me arrepiar cada centímetro. 
Minha vontade agora é bater na porta da sua casa, levar flores, chocolates, presentes, mas então lembro que sou menina e tenho que parar de assumir o pinto que eu não tenho. Mas, hey, seria muito estranho eu te ligar? Dizer tudo isso que está entalado aqui? Jogar na sua cara que eu tenho ciúmes dessas suas amiguinhas e estou cheia de vontade de matar aquela piriguete que você pegou? Seria estranho eu dizer que estou a-p-a-i-x-o-n-a-d-a por você, assim, pausadamente, pra você entender e sentir a intensidade do meu sentimento.
Só queria dizer-te que tenho raiva de você por me fazer amar-te tanto assim e, esquecendo o orgulho que não cabe mais aqui, eu sou sua, toda sua, talvez pra sempre. Eu te amo. 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Ponto Final

O telefone toca uma, duas, três vezes, ela atende.
- Hey, amor, volta pra mim… - é uma voz trêmula que fala do outro lado da linha, mas ela reconhece.
- O que? Por que isso agora, hem? Percebeu que é ruim demais viver sem mim? 
- É, é isso mesmo, é ruim demais viver sem você, morena.
- Não me faça rir, por favor. E a sua amiguinha lá? A piranha? Vai atrás dela.
- Não, eu quero você, amor.
- Rá-rá. Não foi isso que você disse quando resolveu terminar tudo. Ela não te quis, é? Que pena, eu também não quero mais.
Ela desliga, respira fundo, sabe que não devia ser assim, é triste demais acabar desse jeito tão… duro. Mas foi ele quem quis assim, certo? Certo. Foi ele quem ligou naquela noite de quarta-feira e disse que não dava mais, que não era amor aquilo que sentia e ela, com pose de durona, também disse que nunca o amou. Ambos concordaram - pelo menos ali - que deviam seguir sua felicidade e não poderiam seguir juntos. 
Pronto, ela, orgulhosa, não disse nada, trancou-se o quarto e chorou a noite inteira abafando os soluços com o travesseiro, fora a única vez que chorou por ele, a única em que teve coragem de confessar que doía viver sem ele e que gostava demais dele. Confessou aquilo apenas a si mesma, nem à melhor amiga o fez, pelo contrário, sorriu quando contou-lhe o ocorrido e disse que estava bem, que iria atrás da felicidade e que haviam muitos outros homens por aí. E agora ele liga, numa sexta à noite, ela não se abala mais, realmente, não fora amor. 
De fato, quem vê essa morena andando por aí, julga-lhe feliz e, pode-se dizer que depois desse tempo sozinha, trancando-se no quarto à penumbra, escrevendo textos caçoando da própria situação e a mediocridade da vida em sábados à noite, ela realmente é. Hoje já tem de volta aquele típico brilho naqueles olhos cor-de-mel e um sorriso verdadeiro nos lábios, sem fingimento e choros abafados no meio da noite, apenas felicidade. 
Volta e meia ela ainda lembra dos beijos doces e das mãos quentes, mas são apenas lembranças que não voltam - e nem quer que voltem - e que um dia fizeram-na feliz. Acabou. Sem beijo de despedida, apenas um adeus e ponto final. Capítulo novo.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Tempo de Criança


Saudades daquele tempo de travessuras, de correr no meio da casa, de sorrir por tudo - até por nada. Saudades do tempo em que me ralava toda nas brincadeiras de rua e essa era minha maior dor, à propósito, saudades também dos meus amigos, companheiros de brincadeiras, de risadas, das piadas ingênuas. Saudades de correr pra cama da minha mãe no meio da noite, chorando de medo da escuridão do meu quarto. Saudades de me preocupar com um brinquedo quebrado.
Eu era pequenina, travessa, sorridente, criança mimada, a princesinha da família. Saudades de brincar pelo pátio daquele colégio antigo, correr atrás dos moleques que pegavam minhas bonecas por picardia, pra caçar brincadeira. Lembro, e rio, das vezes que a professora me punha de castigo por bater nos meninos e brincar na hora errada, eu nunca fui fácil.
E aquele tempo em que namorar era andar de mãos dadas? Ah, tempo bom. Eu tinha um namoradinho, andávamos de mãos dadas pela escola e brincávamos de papai e mamãe das bonequinhas na casinha que tinha no fundo do pátio. Saudades de quando eu contava as horas para voltar pra escola e rever meus amiguinhos. Saudades de jogar bola no meio da rua, de patinar no parque, brincar no pula-pula, correr atrás dos meninos, tomar banho de mangueira, das cantigas, apostar corrida, pular corda cantando "Loiro-moreno-careca-cabeludo-rei-ladrão-polícia-capitão-anão...". Ah, saudade desse tempo que não volta mais. 
Feliz Dia das Crianças a todos nós, que guardamos dentro do peito aquela criança que um dia fomos e voltaremos a ser em nossos sonhos.