Anne era pequenina, tinha os olhos verdes mais lindos que já vi
e o cabelo preto comprido, a pele branca e as bochechas coradas e um sorriso
ingênuo. Mas hoje, bem, hoje não era um bom dia, como aqueles em que ela abria
as cortinas e sorria com os olhinhos entreabertos, ela apenas recostou a cabeça
na janela embaçada e chorou junto com a cidade que havia lá fora, todos aqueles
prédios cinzentos e as pessoas que corriam com seus guarda-chuvas por aquelas
ruas. A cidade chorava com ela.
Ninguém lá fora imaginava o
tamanho da dor que sentia. Como dizer adeus a quem nunca se imaginou sem? Doía
como uma ferida exposta, seus olhos marejados já estavam inchados e o coração
doía como nunca imaginava que poderia doer. Queria ligar pra alguém, ter um
amigo que atravessasse a cidade para conforta-lhe no peito e dizer que ele não
valia tamanha dor, mas Anne não tem ninguém. Tinha ele, mas agora não mais. Pra
onde correr quando o seu único porto seguro não lhe pertencia mais? Era algo
totalmente insuportável. A pequenina abafava o choro no travesseiro enquanto
tentava, inutilmente, afastar todos aqueles pensamentos. Mas como tirar da
cabeça o que não sai do coração?
O celular tocava
incessantemente e sem olhar quem era e antes mesmo de dizer 'alô', do outro
lado da linha ele começou:
- Anne, meu amor, desculpe
por ontem, quero dizer, desculpe por ser tão idiota, não posso deixar você ir
embora. Eu amo você e não consegui dormir essa noite, não quero que tudo isso
que a gente construiu acabe assim. Anne, eu te amo mais que tudo, minha
pequena.
- Eu também te amo, Caio.